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Você já ouviu falar em “fazenda de corpos” ?
Galera brisada, você vai achar que está vendo fotos e cenas de um filme de terror, mas é apenas o Estados Unidos mesmo. Lá, é muito comum a existência de “ fazendas de corpos ” (“body farms”, no original). O Texas por exemplo, possui uma das maiores, com aproximadamente 50 cadáveres espalhados em mais de 16 hectares de terra. Alguns estão mumificados e outros foram atacados ferozmente por abutres. Porém, os mais assustadores são os frescos, pois ficam inchados devido às poucas semanas transcorridas após a morte. Treta demais né? Chega a ser até “corta-brisa”.
O campo de estudo está estabelecido no Freeman Ranch e faz parte do Centro de Antropologia Forense da Universidade do Texas. Os defuntos são doados e deixados a céu aberto para que os pesquisadores possam compreender o processo de decomposição, visando assim auxiliar nas investigações criminais.
Para entender melhor, é só se lembrar dos filmes em que o policial sempre pergunta: “Há quanto tempo ele está morto?”. Essas fazendas ajudam a determinar justamente isso. E tem mais, os pesquisadores do Freeman Ranch estão utilizando seus conhecimentos para auxiliar na identificação de centenas de pessoas que morreram de desidratação ou de ataque cardíaco após cruzar as fronteiras dos Estados Unidos.
“Basicamente, nós queremos descobrir como a decomposição funciona”, explica Daniel Wescott, o antropólogo-diretor do recinto e professor da Universidade do Texas. “Há um miniecossistema ocorrendo nos corpos e queremos entendê-lo por inteiro”, complementa.
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Pelo que sabemos, todos os humanos compartilham do mesmo fim após a morte: a decomposição. A não ser que seu corpo seja congelado, cremado ou inteiramente destruído, ele deve ser consumido por bactérias, insetos e animais que reciclam o material orgânico e o transforma em novas formas de vida.
O primeiro estudo sobre a decomposição humana chamado Washing Away of Wrongs e escrito pelo juiz Song Ci no século 13, ensina como examinar um corpo e determinar a causa da morte. Já em 1800, vários estudiosos europeus observaram os estágios específicos pelos quais o corpo passa durante o processo de apodrecimento.
Na década de 70, os cientistas forenses utilizavam carcaças de porcos para averiguar detalhadamente os dados que envolvem o intervalo post-mortem – o período entre o momento em que a pessoa morre e o corpo é encontrado. Nessa época, ninguém nunca havia observado um corpo humano em deterioração em um ambiente controlado.
Nos anos 80, William Bass fundou a primeira fazenda de corpos. A ideia surgiu após ele ter sido chamado para ajudar os policiais em uma cena de crime local. Nela, uma cova do tempo da Guerra Civil Americana havia sido violada e suspeitaram que o cadáver fosse recente – provavelmente trocado pelo assassino para encobrir as evidências. Nisso, Bass avaliou as roupas e outros fatores e descobriu que esse não era o caso.
A partir daí, o cientista passou a coletar amostras para análise, tendo como objetivo expandir o conhecimento sobre a decomposição humana. Depois de alguns anos, a fazenda de corpos no estado do Tennessee já havia analisado mais de 650 falecidos, legitimado o estudo e estabelecido muito do que sabemos atualmente.
Mas ainda há muitas coisas que precisam ser descobertas. “O calor e a humidade afetam a taxa de decomposição. Isso significa que o processo varia de região para região”, explica Wescott. Portanto, diversos locais desse tipo foram abertos em outros estados dos EUA, entre eles Carolina do Norte e Illinois.
A fazenda de corpos do Texas é gerenciada por quatro funcionários em tempo integral, mas recebe dezenas de voluntários graduados ou não. Nela, encontram-se mais de 200 esqueletos contemporâneos. Wescott informa que isso é importante porque o corpo humano está sempre mudando – hoje em dia, principalmente por causa da obesidade.
As outras coleções nos EUA possuem mais amostras históricas. Portanto, ter uma amostra recente de defuntos auxilia no processo de determinação da idade de uma pessoa não identificada e encontrada em circunstâncias misteriosas. Em um de seus casos, Wescott conta que foi chamado para ajudar na análise de um corpo decapitado, achado próximo à cidade de Columbia, em 2008.
“A primeira coisa que notei foram os ossos da coxa”, diz o atropólogo. “Eles eram muito mais finos do que o normal e se se uniam ao corpo em um ângulo estranho”, complementa. Depois de comparar com as amostras da universidade, ele deduziu que esse era o resultado de um longo período sentado – provavelmente em uma cadeira de rodas.
Nisso, a polícia informou ao público a descoberta. O caso foi encerrado quando um vendedor de cadeiras de rodas ouviu a notícia, telefonou e disse que uma de suas clientes havia desaparecido e não retornava mais suas chamadas.
É inegável que existe uma cortina que separa a vida da morte, sendo que a maioria de nós não tem coragem de espiar por trás dela. Antonius Robben, professor e antropologista que estuda as crenças que envolvem o assunto, diz que não há nehuma cultura no planeta que deixa o corpo sem um ritual. “Isso é uma das poucas coisas universais”, defende Robben.
Uma das dificuldades em observar um cadáver na Freeman Ranch é que ele desperta essa preocupação. Um corpo humano em decomposição parece de uma espécie diferente. Entretanto, todos nós iremos passar pelo mesmo processo algum dia.
Assim que um cadáver chega na fazenda, os cientistas o carregam para um laboratório local, onde ele é medido e fotografado. Também são coletadas amostras de cabelo e sangue, e um número de identificação é adotado no lugar do nome da pessoa.
Quando possível, eles colocam o corpo para deteriorar na mesma hora. Porém, quando não há funcionários suficientes para o carregamento, o cadáver é armazenado no refrigerador durante alguns dias para retardar a decomposição. O local em que os mortos ficam é monitorado 24 horas por câmeras, porém Wescott diz que ninguém nunca tentou invadir – ou fugir.
Dependendo da pesquisa que está sendo feita, os corpos são deixados para apodrecer em diferentes circunstâncias. Alguns são intencionalmente deixados no sol ou na grama, enquanto outros ficam sob as sobras de um genebreiro ou de um carvalho. A maioria fica protegida por grades de metal, porém alguns ficam expostos para que os cientistas possam observar o efeito dos abutres por meio das gravações.
Atualmente, os mortos ficam todos nus, mas já foram feitas pesquisas para averiguar o impacto das roupas no processo de decomposição. O cheiro do local é uma mistura de raízes molhadas e carne rançosa.
O primeiro estágio da decomposição começa logo após a morte. Uma vez que o coração parou de bater, as células não conseguem mais manter a homeostase (um estado de equilíbrio da temperatura, pH e outros fatores) logo começam a se romper. Isso inicia o processo de putrefação, visto que as bactérias começam a se alimentar do corpo.
Depois de alguns dias de comilança por parte dos microrganismos, inicia-se o segundo estágio: o inchaço. Conforme eles digerem os componentes sólidos da carcaça, são liberados gases – sulfeto de hidrogênio, dióxido de carbono e metano – o que faz com que o cadáver se expanda. Nessa fase, ele fica amarelo pelo processo de marmoreio e pode duplicar de tamanho.
Isso atrai as moscas, que botam ovos em todos os orifícios abertos, o que inclui olhos, ouvidos, nariz e boca. Pouco tempo depois, nascem as larvas, que cobrem todo o defunto. O rosto é o primeiro a ser consumido, pois abriga mais buracos e cria mais bichos.
Três dias depois da decomposição, é chegado o terceiro estágio: purgação. Nele, o corpo começa a desinchar e encolher, já a pele se rompe para liberar a pressão e os fluidos. “O líquido é tão rico em nitrogênio que mata toda a vegetação ao redor. Todavia, após um ano, ele dá origem a grandes vegetações, pois age como fertilizante”, explica Wescott.
Passadas algumas semanas, as bactérias e as larvas já terminaram de consumir a maior parte da carne. A próxima etapa é a mais longa e predominante no Freeman Ranch: a deterioração avançada. As carcaças são deixadas para secar e mumificar sob o sol, porque o calor as torna inóspitas para os microrganismos e as moscas. Já as que ficam na sombra continuam sendo consumidas aos poucos.
Por fim, depois de seis meses a um ano – varia conforme as condições climáticas –, inicia-se o último estágio: a secagem. Agora, o cadáver é reduzido a uma pilha de cartilagens, ossos e trapos de pele. Em um determinado ponto, os ossos são levados para o laboratório, fervidos para retirar os traços de carne, limpos e incluídos na coleção.
Quando os corpos são deixados sem as grades, eles servem de banquete para os abutres. Utilizando as câmeras de segurança, os cientistas estudam as hordas de pássaros que invadem o local sempre que um novo defunto é descarregado. Eles não comem a pele, mas abrem orifícios para apanhar o “recheio”. Os urubus atacam as carcaças e as arrastam violentamente para arrancar os pedaços de carne.
Um corpo humano em decomposição cria um ecossistema evoluído e complexo, conhecido atualmente como necrobioma. O que Wescott deseja fazer é mapear esse sistema para ajudar a determinar o intervalo exato do post-mortem. “Descobrir a quanto tempo um corpo intacto está morto é fácil, o difícil é estudar um cadáver encontrado após longos meses apodrecendo em um local inóspito”, analisa o professor.
Ele explica que o intuito da pesquisa é entender o necrobioma e o processo de decomposição de um cadáver. Assim, um dia os especialistas forenses poderão se deparar com um corpo, analisar a sequência bacteriana do DNA e utilizar diversas espécies para saber há quanto tempo foi acionada a putrefação.
Embora esse projeto ainda esteja longe de ser concluído, atualmente os investigadores já podem analisar defuntos pelos gases emitidos, uma vez que eles mudam com o passar do tempo. Cães também são treinados para encontrar cadáveres e auxiliar cadetes. Recentemente, os cientistas estão testando o uso de câmeras de infravermelho para achar anomalias na química do solo, permitindo encontrar mais facilmente corpos enterrados.
Todos os anos, centenas de imigrantes mexicanos são encontrado nos EUA em lugares inesperados, tal como Brooks County, no Texas, que fica a cerca de 112,65 quilômetros da fronteira. Preocupada, a professora Kate Spradley criou o projeto “Operation ID”, que visa a identificação dos corpos encontrados em situações adversas.
A doutora revela que as causas da morte costumam ser o patrulhamento fronteiriço, a geografia e o calor. Em geral, os cadáveres são de pessoas que se desidrataram e foram deixadas para trás pelo grupo guiado por coiotes (pessoas responsáveis pela travessia da fronteira). “Todos os dias tem gente morrendo, e o pior de tudo é que ninguém parece se importar”, explica a professora.
Durante a patrulha, a polícia encontra as vítimas – em cavernas, sombras de árvores e pedregulhos – depois de horas ou dias de sua morte. Porém, como eles não estão exatamente na fronteira, não recebem nenhum fundo federal para lidar com a situação. Logo, os indivíduos costumam ser enterrados em covas desmarcadas, sem nenhum tipo de autópsia, tentativa de identificação ou contato com a família.
Com o auxílio de outras equipes, a professora trabalhou na exumação das tumbas e na reintegração com os familiares. Muitos dos cadáveres são levados para os laboratórios do Freeman Ranch para serem analisados. Os cientistas também levantam um perfil cultural através das roupas, joias e itens com que o morto foi enterrado, visando assim aprender o máximo possível de sua origem.
Por fim, todas as informações são catalogadas e hospedadas no banco de dados do NamUS, em que parentes podem procurar informações sobre desaparecidos e se lembrar de alguma coisa que o falecido vestia quando sumiu.
“Creio que o pior que qualquer pessoa pode passar é não saber o que aconteceu com um ente querido”, diz Spradley. “Você se pergunta: ‘Ele decidiu não voltar nunca mais?’, ‘Ele morreu?’. Claro que não é bom saber que um parente foi identificado, mas, pelo menos, ajuda no processo de luto”, conclui a professora.
Galera, vocês já ouvira falar sobre o Tamam Shud? É o misterioso caso do cadáver que nunca teve sua identidade descoberta. Clica e confira que história maluca!
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Fonte: Mega Curioso.
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