Monstro: A História real de ED GEIN
Poucos nomes na história criminal norte-americana são tão perturbadores e, ao mesmo tempo, tão influentes na cultura pop quanto o de Ed Gein. Conhecido como o “Monstro de Plainfield”, esse homem franzino, solitário e aparentemente inofensivo transformou-se em uma das figuras mais macabras do século XX.
Seus crimes, descobertos no final da década de 1950, chocaram não apenas a pequena comunidade rural de Wisconsin, mas o mundo inteiro.
O caso de Ed Gein ultrapassou os limites do noticiário policial e se tornou uma verdadeira lenda urbana. Mais do que um assassino, ele se consolidou como um ícone sombrio, cujos horrores inspiraram algumas das obras mais marcantes do cinema de terror: Norman Bates, em Psicose (1960); Leatherface, em O Massacre da Serra Elétrica (1974); e Buffalo Bill, em O Silêncio dos Inocentes (1991). Personagens que, até hoje, assombram a imaginação coletiva.
Décadas depois, sua história volta ao centro dos holofotes com a série Monstro, da Netflix — mesma franquia que apresentou o sucesso mundial Dahmer: Um Canibal Americano. A produção promete revisitar a trajetória de Gein, explorando não apenas seus crimes, mas também o contexto psicológico e social que moldou um dos nomes mais perturbadores da criminologia moderna.
Mas afinal, quem foi Ed Gein? Como um homem aparentemente comum se tornou um dos maiores símbolos do horror real?
Vamos mergulhar fundo em sua história, desde a infância marcada por abusos até o impacto cultural duradouro que ainda reverbera no cinema, na televisão e no imaginário popular.
O Contexto: América dos anos 40 e 50
Para entender a mente de Ed Gein e como ele acabou se tornando uma das figuras mais perturbadoras da história criminal, é essencial olhar para o cenário em que ele viveu. Gein cresceu em Plainfield, uma pequena cidade do estado de Wisconsin, com pouco mais de 600 habitantes nas décadas de 1940 e 1950.
Essa comunidade rural, cercada por vastos campos e florestas, refletia um estilo de vida simples, conservador e profundamente enraizado em valores religiosos.
Era um período em que os Estados Unidos passavam por mudanças significativas. O fim da Segunda Guerra Mundial havia transformado a economia e o modo de vida norte-americano. Nas grandes cidades, surgiam novos padrões culturais: o consumismo, a ascensão da televisão e o nascimento da chamada “cultura juvenil”. Mas em lugares isolados como Plainfield, o tempo parecia andar mais devagar. Ali, a vida girava em torno do trabalho agrícola, da igreja e de um forte senso de comunidade.
Esse contraste entre a modernização das metrópoles e o tradicionalismo das áreas rurais contribuiu para acentuar o isolamento de Gein. Enquanto o país celebrava prosperidade e avanço tecnológico, ele permanecia preso a um ambiente rígido e sufocante, dominado pela presença controladora de sua mãe.
Além disso, os anos 40 e 50 foram marcados por um moralismo extremo em relação a temas como sexualidade, família e religião. Qualquer comportamento que fugisse ao padrão social era considerado tabu e, muitas vezes, condenado pela comunidade.
Esse ambiente repressivo foi terreno fértil para que as obsessões de Gein se desenvolvessem silenciosamente, longe dos olhos de um mundo que ainda não compreendia plenamente os transtornos mentais.
Assim, antes mesmo de cometer seus crimes, Ed Gein já vivia em um cenário propício para que suas fantasias mórbidas se alimentassem do silêncio, do isolamento e da rigidez social. Plainfield não apenas foi palco dos horrores revelados em 1957, mas também o caldeirão onde se formou o imaginário perturbado do “Monstro de Wisconsin”.
Infância e Família de Ed Gein
A infância de Ed Gein foi marcada por uma combinação de isolamento, repressão e traumas emocionais profundos. Nascido em 27 de agosto de 1906, em La Crosse, Wisconsin, ele era o segundo filho de George Gein e Augusta Wilhelmine Gein.
Seu irmão mais velho, Henry, completava a pequena família, que logo se mudaria para uma fazenda afastada nos arredores de Plainfield.
Desde cedo, Ed viveu sob a sombra de uma figura dominante: sua mãe. Augusta Gein era uma mulher extremamente religiosa, adepta de uma visão moralista e fanática do cristianismo luterano. Para ela, o mundo era corrompido pelo pecado, principalmente em relação à sexualidade.
Mulheres (com exceção dela própria) eram vistas como “criaturas impuras” e “instrumentos do demônio”. Ed e Henry cresceram ouvindo sermões diários que enfatizavam a condenação da carne, do prazer e da independência.
Enquanto Augusta exercia total controle sobre a família, o pai, George, era um homem alcoólatra, de saúde frágil e praticamente sem autoridade dentro de casa. Sua incapacidade de sustentar a família reforçava ainda mais a figura autoritária da mãe.
Assim, Ed cresceu em um lar onde predominava a repressão e a falta de afeto, mas também um laço de dependência doentio com Augusta.
Outro ponto marcante na formação de Gein foi o isolamento social. A mãe desencorajava qualquer amizade fora de casa e restringia o contato dos filhos com outras pessoas, especialmente mulheres. Na escola, Ed era descrito como um garoto tímido, retraído e alvo de zombarias por sua aparência e comportamento estranho. Apesar das dificuldades, mostrava-se um aluno aplicado, com interesse especial por leitura — especialmente histórias de crime, anatomia e medicina forense.
A situação piorou quando, em 1940, o pai morreu de insuficiência cardíaca, deixando a família sem apoio financeiro. Poucos anos depois, em 1944, Henry também faleceu em circunstâncias misteriosas durante um incêndio em uma área da fazenda.
Embora nunca tenha sido provado, muitos especulam que Ed pode ter estado envolvido em sua morte. Após essa perda, Gein ficou completamente sozinho com Augusta, reforçando ainda mais sua dependência emocional.
Quando sua mãe morreu, em 1945, Ed perdeu o último vínculo humano significativo de sua vida. A partir desse momento, seu isolamento se intensificou e sua mente mergulhou cada vez mais fundo em um universo de fantasias sombrias.
A morte de Augusta não apenas desestruturou sua vida, mas também foi o estopim para que suas obsessões mórbidas viessem à tona.
A Obsessão pela Morte e o Macabro
Após a morte de sua mãe em 1945, Ed Gein mergulhou em um estado de solidão absoluta. O pequeno vínculo que ainda o mantinha conectado ao mundo real havia desaparecido. Sem Augusta, ele passou a viver em uma casa cada vez mais decadente, repleta de sujeira, objetos acumulados e um clima mórbido que refletia o vazio de sua mente.
Esse isolamento seria o terreno fértil para o florescimento de uma das obsessões mais perturbadoras da história criminal americana.
O início das exumações
Foi nesse período que Gein começou a frequentar cemitérios locais durante a noite. Fascinado pela morte, ele exumava cadáveres de mulheres que, segundo relatos, lembravam sua mãe. Retirava partes dos corpos e as levava para casa, onde realizava práticas macabras.
Apesar da bizarrice, Gein alegava que não mantinha relações sexuais completas com os cadáveres, mas admitia necrofilia em um nível mais psicológico: ele queria reviver a presença de sua mãe através dos corpos.
O fascínio pela pele humana
Entre os achados da polícia em sua casa estavam cadeiras, luminárias e até roupas confeccionadas com pele humana. Gein confeccionava máscaras com rostos de mulheres, que usava em rituais privados.
Também costurava peças de vestuário, como coletes e saias, em uma tentativa de “se transformar” na mãe ou em uma figura feminina idealizada.
Esse comportamento revela não apenas uma fixação mórbida, mas também um distúrbio de identidade. Muitos criminologistas apontam que Gein tinha um desejo inconsciente de se fundir à mãe, assumindo sua aparência e presença.
Essa tentativa bizarra de reconstruir Augusta por meio da pele de outras mulheres tornou-se um dos aspectos mais chocantes de seu perfil.
Objetos macabros da casa de Ed Gein
Quando a polícia finalmente entrou na propriedade em 1957, encontrou uma verdadeira “casa dos horrores”:
- Tigelas feitas de crânios humanos.
- Máscaras faciais penduradas nas paredes.
- Um cinto confeccionado com mamilos femininos.
- Uma poltrona estofada com pele humana.
- Um terno completo feito de pele de mulher.
Esses detalhes, por mais grotescos que sejam, ajudaram a consolidar a fama de Ed Gein como uma figura além da realidade, quase mitológica. Sua casa virou um símbolo de terror, inspirando cenários e personagens que até hoje assombram o cinema e a literatura.
A busca por uma “nova mãe”
No fundo, sua obsessão não era apenas pela morte em si, mas pela recriação da figura materna. Gein buscava, através de cadáveres e objetos macabros, reviver Augusta, mantendo-a presente em sua vida.
Esse comportamento doentio revelou o quanto sua dependência emocional era absoluta — a ponto de destruir completamente sua noção de moralidade e humanidade.
Os Crimes de Ed Gein
Embora já fosse conhecido na pequena comunidade de Plainfield por seu comportamento estranho e sua vida solitária, Ed Gein parecia inofensivo para a maioria dos vizinhos. Trabalhava em fazendas locais, fazia pequenos reparos e até cuidava de crianças de vez em quando.
No entanto, por trás da fachada de homem tímido e prestativo, escondia-se uma mente consumida por fantasias macabras.
O desaparecimento de Mary Hogan
O primeiro crime associado a Ed Gein foi o desaparecimento de Mary Hogan, dona de um bar local, em 1954. Na época, Mary simplesmente sumiu, deixando a comunidade intrigada. Não havia sinais claros de luta ou pistas que apontassem para seu paradeiro.
Somente anos depois, quando Gein foi preso, a polícia encontrou o crânio e outras partes de seu corpo dentro da casa dele.
O caso Bernice Worden
O crime que selou o destino de Gein ocorreu em 16 de novembro de 1957. Naquele dia, Bernice Worden, proprietária de uma loja de ferragens em Plainfield, desapareceu misteriosamente.
Seu filho, que também era policial, encontrou a loja vazia e sinais de luta. O livro de vendas do dia mostrava que o último cliente havia sido Ed Gein.
A polícia imediatamente foi até a fazenda do suspeito e se deparou com um dos cenários mais horrendos já registrados na história criminal dos Estados Unidos. O corpo de Bernice foi encontrado decapitado e pendurado de cabeça para baixo, aberto como um animal em um matadouro.
Além disso, a busca revelou dezenas de restos humanos espalhados pela casa, confirmando anos de exumações e assassinatos.
A casa dos horrores
Dentro da residência, os investigadores catalogaram uma lista macabra de objetos:
- Máscaras feitas com pele humana.
- Crânios usados como tigelas.
- Móveis estofados com pele.
- Vestimentas feitas de partes de corpos.
- O corpo mutilado de Bernice Worden.
A descoberta não apenas comprovou os crimes de Gein, como também chocou a opinião pública mundial. Jornalistas de todos os Estados Unidos viajaram até Plainfield para cobrir o caso, transformando a pequena cidade em palco de um espetáculo mórbido.
A prisão de Ed Gein
Ed Gein foi preso no mesmo dia do desaparecimento de Bernice Worden. Durante os interrogatórios, confessou o assassinato de Bernice e de Mary Hogan, além de admitir que exumava cadáveres em cemitérios próximos.
Apesar disso, sempre alegou que muitas de suas ações eram motivadas por um desejo inconsciente de reviver a mãe.
Os crimes de Ed Gein ultrapassaram qualquer limite imaginável e consolidaram sua reputação como um dos criminosos mais macabros da história. Mais do que assassinatos, tratava-se de uma obsessão doentia que transformou cadáveres em objetos do cotidiano.
O Julgamento e a Internação Psiquiátrica
A prisão de Ed Gein, em novembro de 1957, transformou um simples fazendeiro solitário no centro de um dos casos criminais mais comentados do século XX. O que a polícia encontrou em sua propriedade foi tão perturbador que jornalistas de todo o país correram até Plainfield para noticiar os horrores.
No entanto, logo surgiria uma questão fundamental: Ed Gein deveria ser considerado um assassino comum ou um homem mentalmente incapaz de responder por seus atos?
O julgamento interrompido
Inicialmente, Gein foi acusado do assassinato em primeiro grau de Bernice Worden. A defesa, porém, rapidamente alegou insanidade.
Durante as primeiras audiências, psiquiatras diagnosticaram Gein com esquizofrenia e psicose crônica, condições que, segundo eles, impediam o réu de compreender totalmente a gravidade de suas ações.
Em 1958, o tribunal declarou Gein inapto para julgamento e determinou sua internação em um hospital psiquiátrico de segurança máxima, o Central State Hospital for the Criminally Insane, em Waupun, Wisconsin.
O “segundo julgamento”
Somente em 1968, após anos de tratamento, os médicos concluíram que Gein havia recuperado uma mínima capacidade mental para enfrentar um processo judicial. Naquele ano, ele foi finalmente julgado pelo assassinato de Bernice Worden.
Apesar da gravidade dos crimes, o júri considerou Ed Gein inocente por razão de insanidade.
Essa decisão gerou enorme polêmica na época. Muitos acreditavam que os horrores cometidos por Gein mereciam punição exemplar. Outros, no entanto, concordavam que seu estado mental o colocava além da compreensão moral comum, tornando-o um caso de saúde pública e não de justiça criminal tradicional.
Vida nos hospitais psiquiátricos
Após o julgamento, Ed Gein foi transferido para o Mendota Mental Health Institute, em Madison, onde passaria o resto de sua vida. Relatos de funcionários e pacientes afirmam que, dentro do hospital, Gein era surpreendentemente calmo e cooperativo.
Participava de atividades diárias, ajudava na cozinha e raramente demonstrava agressividade.
Sua aparência frágil e comportamento dócil contrastavam com os horrores que haviam sido revelados em sua fazenda. Esse contraste só aumentava o mistério em torno de sua personalidade: como um homem aparentemente pacato poderia ter cometido crimes tão inimagináveis?
A morte de Ed Gein
Ed Gein permaneceu internado por mais de três décadas, até falecer em 26 de julho de 1984, aos 77 anos, vítima de insuficiência respiratória e câncer. Foi enterrado ao lado da mãe, no cemitério de Plainfield — ironicamente, o mesmo lugar onde havia desenterrado tantas de suas vítimas.
Ed Gein na Cultura Pop
Poucos criminosos reais tiveram tanta influência na cultura pop quanto Ed Gein. Seus crimes, descobertos em 1957, extrapolaram os limites da criminologia e transformaram-se em material fértil para o cinema de terror, a literatura e até mesmo a televisão.
Ao longo das décadas, ele deixou de ser apenas “o Monstro de Plainfield” para se tornar um arquétipo de horror, eternizado em personagens fictícios que continuam a assombrar o imaginário coletivo.
Norman Bates em Psicose (1960)
O primeiro grande impacto cultural da história de Gein veio com o lançamento de Psicose, clássico dirigido por Alfred Hitchcock em 1960. O personagem Norman Bates, um jovem hoteleiro com forte ligação materna, foi inspirado diretamente em Gein.
Assim como Ed, Norman tinha uma relação obsessiva e doentia com a mãe, cuja presença continuava a controlá-lo mesmo após a morte. O filme foi um marco do cinema de suspense e ajudou a popularizar o conceito de vilões com profundidade psicológica.
Leatherface em O Massacre da Serra Elétrica (1974)
Se em Psicose a inspiração foi mais sutil, em O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper, a ligação com Gein foi explícita. O vilão Leatherface usa máscaras feitas de pele humana, um detalhe tirado diretamente da vida do criminoso de Plainfield.
O ambiente rural, a casa sombria e a família disfuncional retratados no filme também ecoam a atmosfera encontrada na fazenda de Gein.
Buffalo Bill em O Silêncio dos Inocentes (1991)
Décadas depois, Gein voltou a assombrar o cinema com o personagem Jame Gumb, mais conhecido como Buffalo Bill, no premiado O Silêncio dos Inocentes.
O assassino fictício sequestrava mulheres para usar suas peles e criar uma espécie de “traje humano” — comportamento que remete diretamente às práticas macabras de Gein. O filme conquistou cinco Oscars e consolidou esse arquétipo no imaginário popular.
Documentários e séries
Além da ficção, Ed Gein também foi tema de inúmeros documentários e séries investigativas. Produções como Ed Gein: The Real Psycho e Ed Gein: The Butcher of Plainfield exploraram sua trajetória de forma factual.
Mais recentemente, a Netflix trouxe sua história de volta aos holofotes com a série Monstro, dentro da mesma franquia que apresentou a história de Jeffrey Dahmer.
O arquétipo do “monstro real”
A influência de Ed Gein ultrapassa o entretenimento. Ele ajudou a moldar o gênero true crime e o terror psicológico, sendo constantemente lembrado como prova de que a realidade pode ser mais assustadora do que qualquer ficção.
Sua figura permanece como referência para roteiristas, cineastas e escritores que buscam explorar a tênue linha entre insanidade, violência e horror.
A Nova Série da Netflix: Monstro
Depois do sucesso mundial de Dahmer: Um Canibal Americano (2022), a Netflix confirmou que a antologia Monstro seguirá explorando a vida de criminosos reais que marcaram a história dos Estados Unidos.
Entre eles, está Ed Gein, cuja trajetória de horror continua a fascinar e aterrorizar o público décadas após sua morte.
O legado de Dahmer e a aposta em Gein
A primeira temporada, focada em Jeffrey Dahmer, tornou-se um fenômeno cultural: mais de 1 bilhão de horas assistidas em poucos meses, colocando a produção entre as séries mais vistas da plataforma. O impacto foi tão grande que os criadores, Ryan Murphy e Ian Brennan, decidiram expandir o universo para incluir outras figuras do true crime. Ed Gein, por sua influência na cultura pop e crimes perturbadores, era uma escolha quase inevitável.
O que a série promete explorar
Diferente de filmes clássicos que usaram Gein como inspiração indireta, a série da Netflix pretende retratar de forma biográfica e psicológica sua história. A expectativa é que sejam abordados:
- A relação obsessiva com a mãe, Augusta.
- O isolamento em Plainfield e sua vida aparentemente comum.
- O início das exumações e a construção da “casa dos horrores”.
- Os assassinatos de Mary Hogan e Bernice Worden.
- O impacto cultural e a cobertura da mídia na época.
O objetivo é não apenas narrar os crimes, mas também mergulhar no contexto social e psicológico que transformou Gein no “Monstro de Wisconsin”.
Comparação com outras representações
Enquanto obras como Psicose e O Massacre da Serra Elétrica optaram pela ficção inspirada em Gein, a Netflix busca entregar uma versão mais documental e dramatizada, com foco na fidelidade histórica.
Isso deve atrair tanto fãs de true crime quanto apreciadores do gênero de terror psicológico.
Expectativas do público
A escolha de Gein como tema gerou grande expectativa, mas também polêmica. Assim como ocorreu com Dahmer, críticos levantam questões sobre a romantização de assassinos e o impacto nas famílias das vítimas.
Ainda assim, o interesse do público é inegável: há uma curiosidade mórbida em revisitar a mente de alguém que inspirou tantos vilões do cinema.
Impacto cultural atual
Com a chegada da nova temporada de Monstro, a história de Ed Gein volta a ganhar relevância em tempos de consumo massivo de conteúdos de true crime. Em um mundo onde podcasts, séries e documentários sobre crimes reais estão entre os formatos mais populares, a figura de Gein reforça a ideia de que a realidade pode ser mais assustadora que a ficção.
Análise Psicológica e Cultural de Ed Gein
A história de Ed Gein não pode ser compreendida apenas pelos fatos criminais. Para além do horror explícito de seus atos, existe uma dimensão psicológica e cultural que ajuda a explicar como um homem aparentemente comum se transformou em um dos nomes mais perturbadores da criminologia moderna.
O perfil psicológico
Psiquiatras que analisaram Gein o descreveram como portador de esquizofrenia paranoide, além de traços de psicose e transtornos de identidade. Ele não distinguia claramente realidade e fantasia, acreditando que podia reviver a presença da mãe ao usar roupas feitas de pele humana.
Outro ponto relevante era a dependência emocional. Ed nunca desenvolveu vínculos saudáveis fora da família, e sua relação simbiótica com Augusta deixou sequelas profundas. Após a morte dela, ele buscou preencher esse vazio por meio de práticas macabras, revelando um transtorno de luto patológico e obsessivo.
A necrofilia simbólica
Embora Gein tenha negado relações sexuais completas com cadáveres, especialistas apontam que ele praticava uma forma de necrofilia simbólica. Sua atração não era pelo ato em si, mas pela possibilidade de “reviver” sua mãe através dos corpos.
Essa motivação o diferenciava de outros serial killers, aproximando-o mais de um caso psiquiátrico extremo do que de um criminoso comum em busca de prazer sexual.
O impacto cultural
O caso de Ed Gein provocou debates intensos sobre saúde mental, criminalidade e até mesmo sobre os limites da cobertura midiática. Nos anos 50, o tema da doença mental ainda era pouco compreendido, e Gein acabou se tornando uma espécie de exemplo macabro usado em discussões sobre a necessidade de maior atenção psiquiátrica.
Além disso, sua história marcou o início da era moderna do true crime. Jornais, revistas e, mais tarde, produções audiovisuais passaram a explorar seu caso como símbolo de um mal escondido em lugares comuns, reforçando a ideia de que o “monstro” pode estar onde menos se espera.
Fascínio e repulsa
O legado cultural de Gein é paradoxal. De um lado, suas práticas horrendas causam repulsa e indignação. De outro, alimentam o fascínio coletivo por assassinos em série, inspirando obras de arte, literatura e cinema. Essa mistura de horror e curiosidade reflete a dualidade da natureza humana: ao mesmo tempo em que tememos o mal, também somos atraídos por compreendê-lo.
A trajetória de Ed Gein ultrapassa os limites do crime e da investigação policial. Sua história é, ao mesmo tempo, um retrato do isolamento, do fanatismo religioso e da fragilidade mental humana. O chamado “Monstro de Plainfield” não foi apenas um assassino, mas um reflexo sombrio de sua época: um homem moldado por repressões familiares, solidão extrema e distúrbios psicológicos que nunca foram tratados.
Os horrores encontrados em sua fazenda chocaram o mundo, mas também deram origem a uma das maiores influências do cinema de terror e da cultura pop. Personagens como Norman Bates, Leatherface e Buffalo Bill continuam a assombrar gerações, lembrando-nos que a linha entre realidade e ficção é muitas vezes tênue — e que a realidade pode ser ainda mais assustadora.
Com a chegada da nova série Monstro na Netflix, a história de Ed Gein retorna ao centro das discussões, mostrando que, mesmo após mais de meio século, o fascínio por sua figura não desapareceu. Pelo contrário: cresce a cada vez que é revisitada em obras de entretenimento e estudos culturais.
No fim, o que mais assusta na história de Ed Gein não são apenas os crimes em si, mas a constatação de que o mal pode se esconder nos lugares mais comuns, sob a aparência de alguém aparentemente inofensivo. É esse contraste que mantém viva a lenda do “Monstro de Wisconsin” e que continua a despertar tanto horror quanto curiosidade.
Assim, ao revisitar sua história, somos levados não apenas a conhecer os detalhes de seus atos, mas também a refletir sobre a natureza humana, sobre os limites da mente e sobre a capacidade da cultura de transformar tragédias em símbolos eternos do medo.